terça-feira, 26 de junho de 2012

Um pouco de Ney Alberto - 1940 - 2012

Carinhosamente chamado de professor Ney Alberto (Gonçalves de Barros), nascido em 27 de setembro de 1940. Filho de Alberto Gonçalves de Barros e Eufrozina Prado de Barros, Ney era reconhecidamente pela comunidade acadêmica da Baixada Fluminense como o guardião da memória da vida regional. Procurou durante toda a sua vida dedicar aos estudos regionais. Terminou sua vida numa sala no Centro de Memória Avelino Martins Azevedo que funcionava no Espaço Cultural Sylvio Monteiro. Ney sonhou durante toda a sua vida criar um grande Centro de Memória para a Baixada Fluminense. Conversamos muito, fizemos muitos planos, entre eles o de criar o Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB). Um sonho em parte concretizado e que teve no Ney um de seus grandes baluartes. Ney foi tesoureiro, secretário e vice-presidente, hoje fazia parte do Conselho Fiscal e do departamento de pesquisas do Instituto.
Ney foi em vida o que podemos chamar um ser multicultural e interdisciplinar. Acreditava que a cultura é a mãe de todo saber e profetizava: “A primeira coisa que deveríamos fazer na educação seria mudar o nome de Educação e Cultura para Cultura e Educação porque a Cultura antecede a instrução.”
Era formado em Licenciatura Plena em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Rio de Janeiro (Sociedade Universitária Gama Filho) e Bacharel em Direito pela Sociedade de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI). Possuía cursos de extensão em Teoria e Método em Arqueologia das Américas – Sociedade dos Amigos do Museu Nacional – RJ. Curso de Pré-história brasileira – Sociedade dos Amigos do Museu Nacional e Curso de Extensão Universitária: Antropologia Física e Cultural (F.F.C. e L. do RJ) – Gama Filho.
Na sua militância em prol da cultura exerceu as seguintes atividades: Presidente do Instituto Histórico de Nova Iguaçu; Membro da Ala de Compositores da Escola de Samba Beija-flor de Nilópolis; Compositor e autor musical filiado a SICAN; Professor de História da Prefeitura de Nova Iguaçu e Pesquisador Independente sobre a História da Baixada Fluminense.
Ney foi autor de inúmeras músicas e enredos no mundo do samba. Tinha o livre trânsito entre renomados sambistas e compositores. Respeitado entre memorialistas na acepção mais pura da pesquisa histórica. Tinha aversão velada às discussões sobre a baixada que não trouxesse conteúdo sem fundamentação científica. Crítico contumaz àqueles viviam inventando história para a Baixada. Não tinha paciência com a ignorância e com os incautos. Esbravejava diante dos políticos aproveitadores. Foi amigo pessoal de Sebastião de Arruda Negreiros, considerava um político sério, um dos melhores que passou pela sua terra. Dele, foi seu chefe de gabinete em 1958.
De todos os seus amigos de convivência nos anos 60 e 70, o seu maior e mais próximo foi Waldick Pereira, fizeram juntos, muitas pesquisas de campo, produziram e salvaram um grande número de documentos perdidos nos porões dos arquivos públicos que falavam da Velha Iguaçu. Produziram o livro a Mudança da Vila, um clássico da literatura histórica iguaçuana.
Fundaram na década de 1970 o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu. Um sonho que acalentou durante toda sua vida e que acabou morrendo nos porões do Colégio do Professor Ruy Afrânio, com quem conviveu por longos anos. Ney tinha críticas ao Professor Ruy, mas o respeitava e com ele tinha uma carinhosa convivência. Tive o prazer ao lado de Guilherme Peres e Rogério Torres de presenciar até o fim de sua vida esta relação.
Ney era assim. Admirava o trabalho das pessoas na sua luta pela preservação do passado, fazia a crítica necessária e sabia que o crescimento de nosso conhecimento sobre a regionalidade era fruto de nossos métodos interpretativos. Daí ser implacável com os ditos novos historiadores regionais, quanto faltava com o carinho que a historiografia merecia.
Sua convivência com a imprensa nos últimos anos não foi muito boa, conversávamos muito sobre isso, a cada entrevista os fatos históricos eram distorcidos, muita entrevista e pouco conteúdo, achava que a imprensa não estava somando para fazer crescer a consciência histórica na preservação do patrimônio histórico. Esta questão o angustiava, em ver o tempo passar e a cultura ser colocada a cada entrevista na sala do lixo. A porta de sua sala estava sempre aberta para estudantes do ensino fundamental e médio e fechada para a imprensa. Seu trabalho no dia a dia pode ser assim resumido em um pensamento dito por ele: “Eu sempre me senti realizado porque eu trabalho me divertindo e me divirto trabalhando”.
Entrevista com o professor Ney: http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=bdvF4Vv184A&NR=1
Homenagem feita pelo Prof. Genesis Pereira Torres

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